"O Flamengo está dividido politicamente" diz Andrade

"É triste o que aconteceu com o Zico.
Hoje o Flamengo é dividido politicamente.
É uma briga constante pelo poder.
Eu te garanto que se o grupo do Delair (Drumbrosck) tivesse vencido a eleição, tudo seria diferente.
E eu, o treinador do Flamengo até hoje.
A Patrícia ganhou e teve de fazer suas acomodações políticas.
É uma pena tudo o que está acontecendo.
Lamento muito pelo Flamengo.
Pelo Zico."
Quem fez essas declarações exclusivas ao blog sabe o que diz.
Tem uma vida na Gávea.
Jogador excelente, companheiro fundamental de Zico no brilhante time campeão do mundo.
E técnico campeão brasileiro de 2009.
Andrade.
Agora treinador do Brasiliense, clube do senador cassado Luiz Estevão.
Ele me recebeu no hotel Trianon Paulista antes do empate contra o São Caetano.

Andrade, o que acontece no Flamengo?
Há uma divisão enorme pelo poder no clube.
Cada ala quer uma coisa.
A Patrícia recebe pressão de todos os lados.
E lógico que o futebol do Flamengo é muito cobiçado.
Há muita disputa política.
Ninguém tem tranquilidade para trabalhar.
É só política.
Cada ala pensa em si e o Flamengo fica por último.
É difícil demais trabalhar em paz.

O que aconteceu com o Zico te surpreendeu?
Sim. Eu sei o quanto ele ama e se dedicava ao Flamengo.
É uma pesssoa bem resolvida financeiramente na vida.
Com muito caráter, decente, limpo.
É triste o que aconteceu com ele.
Tenho certeza de que fazia o melhor para o Flamengo.
Lamento demais a sua saída do clube.
Mas não me surpreende.

Por quê?
Repito: pela divisão política no clube.
As pessoas estão pensando mais nelas do que no Flamengo.
Todos sabem que o clube tem enormes dificuldades financeiras, de estrutura.
Sem um CT, jogadores dormiam na sala de musculação quando o treino era em dois períodos.
E fomos campeões brasileiros.
Você sabia disso?
Então, isso era insustentável.
O Flamengo não merecia isso.
Tenho certeza de que o Zico estava tentando mudar tudo isso.

Se o Zico comandasse o futebol, você não seria demitido?
Acho que não.
Ele sabe o quanto eu conheço o clube, os jogadores.
O problema foi que eu fiquei no meio de uma briga política pelo futebol.
A pressão era imensa.
Se o Zico tivesse chegado antes, acredito sim que tudo seria diferente.

O Adriano ajudou a te derrubar?
Não, de jeito nenhum.
Ele foi artilheiro do time, um jogador sensacional.
Se tinha problemas, tratamento diferenciado era que por que a direção do clube permitia.
Eu era o treinador e, quando ele estava pronto, jogava.
Acredito até que pelo nosso ótimo relacionamento, ele entrou muito mais em campo do que queria.
Eu saí porque não houve retaguarda.
Fui um dos alvos na briga política do clube.

A Patrícia Amorim disse que você saiu também por outro motivo.
Você foi perguntar para ela se deveria escalar o Petkovic.
Isso não é péssimo para sua imagem como comandante, como treinador?

Eu não queria ficar rebatendo isso por jornalistas.
Li o que ela falou.
Não é bem assim.
Gostaria de não me indispor com ela.

Não se indispor?
Ela te expôs para o mundo do futebol como um técnico que pergunta ao presidente se deveria escalar um jogador...
Já disse que não foi assim.
O Pet tinha tomado várias atitudes erradas e muito se falava dele no clube.
Cada pessoa com poder político me dizia algo sobre ele.
Eu perguntei para a Patrícia qual era a real situação do Pet.
Se o clube iria continuar com ele ou não.
Porque havia a chance dele ser dispensado.
Dependendo do que ela respondesse, eu o manteria no time ou não.
Foi isso...

Você acha que ela falando que você perguntou se deveria escalá-lo estava desviando o foco?
Tirando a atenção das derrotas do Flamengo atual?

Olha, não sei.
Não quero brigar com ela por meio de jornalista.
Sei apenas que a minha consciência está tranquila.
Não pediria nunca ordem a um presidente para escalar jogador.

Por que você acha que, de campeão brasileiro, o Flamengo briga para escapar do rebaixamento?
A situação é simples.
A divisão dos grupos políticos é maior do que as pessoas percebem.
Todos querem o poder.
E isso atinge em cheio o time de futebol.

Você ficou cinco meses sem trabalhar.
Disse que era vítima de preconceito racial.
Acredita mesmo que o negro não pode ser técnico da Série A no Brasil?
A única coisa que eu tenho certeza é de que não há nenhum negro no comando dos 20 times.
Acredito que não é coincidência.
Que técnico negro dirigiu a seleção brasileira?
Talvez aconteçam coisas que não percebemos.
Eu acredito que existe sim essa possibilidade.

Foi o seu caso?
Para mim há outros problemas.
Eu não tenho empresário.
Sei que os empresários dominam o mercado.
E também muita gente, não sei o motivo, achou que eu tinha ido para o Mundo Árabe.
E outros que eu ainda era funcionário do Flamengo.

Como é ter sido campeão do Brasileiro da Série A e assumir um clube na zona do rebaixamento na Série B?
Desde que decidi ser treinador, e não mais auxiliar, sabia que poderia viver várias situações.
Essa é uma delas.
Vim para o Brasiliense com toda a vontade de mostrar o meu potencial.
Vou tirar o time dessa situação.
Os jogadores estão muito empenhados, sabem o quanto vale para as suas carreiras continuarem na B.
O Senador (é como trata Luiz Estevão) se mostrou uma pessoa que sabe o que deseja.
Mostrou confiança no meu trabalho, nos meus planos.
Vamos tirar o Brasiliense desse sufoco e seguir a vida.

Você tem planos de ficar no Brasiliense em 2011?
Seu contrato é verbal?
Eu acertei tudo até o final do Brasileiro da Série B apenas.
Depois, não.
E o meu contrato é sim verbal.
Confio demais no Senador, não haverá nenhum problema.
Depois de acabar o Brasileiro conversaremos sobre o futuro do Brasiliense.
Quero ajudar como puder para que o clube nunca mais passe por uma situação tão difícil.

Você acha que um dia volta para o Flamengo?
Eu sou agora treinador de futebol.
Não sou mais o eterno auxiliar do Flamengo.
Já ajudei treinador demais por lá.
Vou seguir a minha carreira.
Mas nunca vou negar o meu amor pelo Flamengo.
Nunca...
Seja quem for o presidente...


Fonte: Blog do Cosme Rimoli

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